ESTUDO DE TENDÊNCIAS
Sobre o Reverbera
O Reverbera analisa macro e micro tendências que impactam o mundo das marcas. Desde grandes movimentos socioculturais até mudanças específicas em comportamentos e preferências de consumo.
MAXIMALISMO,
O DESIGN DA DOPAMINA
“Eu odeio o minimalismo, isto não é minha vibe. Eu quero me sentir um feiticeiro que está cercado pelas coleções de suas muitas aventuras.” Esse é o áudio deste vídeo do tiktok que já tem mais de um milhão de views. A estética da alegria começa a ganhar vida em meio ao caos político, social e ainda pós-pandêmico.
Apesar de vermos o maximalismo ser mais associado ao design de interiores e moda, este movimento é muito mais que isso, é um estilo de vida! É um conceito cheio de excesso intencional, enraizada em uma ideologia “mais-é-mais” e falando diretamente com as gerações mais jovens. Prosperando em todas as estéticas, o maximalismo emerge de movimentos como o “A Blast of Joy” (ou algo como “uma explosão de alegria” influenciada pelo fim da pandemia) e “Vestindo dopamina”, que é um resultado da necessidade de fugir do estresse e das preocupações da vida moderna, bem como da monotonia do dia-a-dia.
Durante tempos difíceis, as pessoas buscam formas de enfrentar as dificuldades, ativar a dopamina e sentir alegria com mais frequência. E uma das maneiras de fazer quebrar a monotonia e a tristeza é fazer da decoração da sua casa (ou de seu quarto) uma explosão de auto-expressão, escolher roupas vivas, penteados únicos e maquiagens ousadas.
Ser feliz é um dos pilares do maximalismo, mas ele vai muito além disso. Vamos entrar neste universo e entender outras variáveis importantes que geram essa tendência?
O Maximalismo tem uma íntima conexão com o Memphis Design, movimento dos anos 80 que tinha como essência a radicalidade, bom humor e ultraje.
O Memphis Design é amplamente reconhecido como o berço deste movimento extravagante que desafiou as convenções minimalistas dos anos 70. Tudo teve início quando Ettore Sottsass uniu forças com outros artistas da época, com o intuito de subverter o status quo estabelecido.
A visão de Sottsass desempenhou um papel fundamental na criação do estilo audacioso que dominou os anos 80. Ele propôs a formação de um movimento artístico que abraçasse tudo o que era considerado de mau gosto naquela época, combinando elementos geométricos da Art Deco com as vibrantes paletas de cores da Pop Art dos anos 50. A essência dessa tendência era a radicalidade, o bom humor e a provocação.
Fonte: Archdaily - Dennis Zanone
Por que agora?
Uma tendência nunca está sozinha.
Ela só emerge porque outros movimentos e comportamentos a empurram e são como pilares de algo maior. Veja como o maximalismo está também conectado a outras ideias e ações individuais e coletivas.
🥴 Movimento pós pandemia
Historicamente, depois de um período de recolhimento, há uma grande explosão de vida. Após tanto tempo preso em casa, as pessoas estão indo às ruas, lotando festivais e tentando viver com menos receio de ser verdadeiro consigo mesmo.
😀 Afastar a tristeza
O maximalismo está na vanguarda de uma revolução da alegria. As pessoas anseiam pela felicidade, e as cores têm se mostrado capazes de despertar emoções positivas. Diante tantos conflitos e tensões dos grandes centros às pequenas cidades, o mundo pode parecer triste. Então algo tão simples quanto roupas e ambientes alegres podem nos ajudar a começar o dia melhor.
👑 Desejo de auto-expressão
Quando a Geração Z decide que menos é chato, tornou-se mais comum e culturalmente aceito. Essa mudança de perspectiva fez com que mais pessoas se permitissem expressar suas emoções em suas estéticas individuais e empregassem ideias que eram consideradas "demais" no passado.
👊🏽 Gen Z contracultura
Se o minimalismo tornou-se uma manifestação de quem detém o poder em nossa sociedade (vamos nos aprofundar mais para baixo), não é de se estranhar que os jovens desta geração se tornem oposição ao status quo, desafiando o que é considerado normal ou seguro e abraçando o que antes poderia ser visto como não convencional. O maximalismo é também uma atitude subversiva.
🧶 Faça você mesmo
Aqui nós temos uma soma de muitos outros movimentos: Odo it yourself com o desejo de auto-expressão e a coragem de não seguir os padrões potencializam o maximalismo, principalmente na moda e decoração. Personalização, criatividade e satisfação pessoal compõem esta força.
A exuberância e vitalidade da cor do ano da Pantone já dá uma dica para nós.
A Cor do Ano da Pantone, Viva Magenta 18-1750, é uma premissa da força do que é vibrante e vivo. Com energia de sobra, é uma cor enraizada na natureza, descende da família dos tons vermelhos e vem expressando um novo vigor.
A definição da própria Pantone está bastante conectada à tendência maximalista: "Viva Magenta é corajosa e destemida, uma cor pulsante, cuja exuberância impulsiona a celebração, alegria e otimismo, escrevendo assim uma nova narrativa."
Essa energia que vibra é semelhante à energia de quem busca uma vida mais colorida e alegre.
Antes do século XX, o maximalismo era a estética dos ricos e poderosos. Interiores grandiosos eram uma forma de mostrar riqueza. Hoje, o privlégio é ser minimalista.
Você já deu uma olhada na mansão de $ 60 milhões de Kim Kardashian? É tudo branco e bege. Olhando para o Brasil, Bianca Andrade adquiriu recentemente uma mansão toda vidro em Granja Viana, São Paulo, por R$18 milhões, também bastante minimalista.
Tons neutros, linhas elegantes, superfícies naturais e bancadas modernas criam uma sensação de bem-estar ou quase um spa, um retiro espiritual longe do caos do mundo exterior.
Com origem no final dos anos 1960, o minimalismo de certa forma lutou contra movimentos de auto-expressão e abundância como o maximalismo para priorizar a "simplicidade".
Mas em nossa sociedade de consumo, o estilo de vida minimalista também é cheio de privilégios, e gera hoje uma percepção do que é sofisticado, elegante. Fred Di Giacomo citou um pensamento de Tony Marlon em uma de suas reuniões de pauta: "ricos passaram a vida fazendo odes ao consumo, até como uma forma de diferenciar-se dos pobres, e, agora que os pobres podem consumir, inventaram que o bacana é ser minimalista e investir em 'experiências'."
Não é surpreendente que a geração Z esteja se afastando de estilos rígidos e se voltando para o maravilhoso mundo das cores.
Maximalismo vs. Minimalismo
O simples genial, a grande sacada, o design bem feito. Tudo isso pelos olhos de muitos designers brasileiros parece estar no minimalismo. “É sinônimo de sofisticação”, eles disseram. Só que esse conceito é uma convenção herdada de outros países, principalmente Estados Unidos.
A ideia de criar uma linguagem visual universal que pudesse ser absorvida pelo mundo inteiro faz com que os excessos sejam eliminados e apenas o que é “suficiente” se mantenha. A função acima da forma. O problema é que junto com os excessos escorre pelo ralo também as heranças culturais de uma nação. Estampas, cores, formas, tipos, texturas, tudo isso tem história, conecta, desperta emoções e cria laços afetivos únicos.
Engana-se quem pensa que a estética é elemento secundário do design, ela tem função tanto quanto a usabilidade de uma peça. Estética é sobre emoção, já a usabilidade é sobre razão e, como seres emocionais, nós sentimos antes de pensar. Se a estética não convida a entrar dificilmente o produto/serviço terá a chance de mostrar o seu valor.
É na nossa necessidade pela busca de significados que o maximalismo encontra brecha. Ele explora o inusitado, o diverso, o estranho, gera empolgação, dá valor à incoerência, movimenta energias e traz de volta emoções que estavam profundamente adormecidas em tempos difíceis.
Nem tudo precisa ser útil para ser importante, muitas coisas só existem para nos fazer sentirmos vivos. Design é fazer sentir.
Itamara Ferreira
Itamara Ferreira é designer e criadora do Leiautar®.
É especialista em branding e identidades visuais, participou da construção de centenas de projetos e já palestrou em grandes eventos, como o TEDx, e universidades pelo Brasil. Sua missão é mostrar que o design está em tudo e é para todos.
CONVIDADA DESTA EDIÇÃO
"Há tensão entre o caos e a ordem, padrões dentro de padrões e cores conflitantes. O maximalismo pode ser agressivo, desagradável e polarizador. Um crítico chamou isso de 'bastante feio', enquanto outro disse que era um dos livros mais bonitos que já tinham visto. As pessoas ou amavam ou achavam horrível. Você precisa estar ciente disso."
KEELI MCCARTHY, DESIGNER VISUAL, FANTAGRAPHICS
Abraçar a extravagância:
O menos nunca é mais
Uma expressão autêntica
de quem você é
Os produtos da Benucci Products, de Ricardo Benucci, são autênticos e criativos. Como diz seu slogan: iconic products for iconic people. Em um dos seus últimos vídeos no Tiktok, ele diz "Minha csaa é uma expressão de quem eu realmente sou." Parece essa ser também sua inspiração para suas criações. Expressão, liberdade e criatividade.
Barbárie se denomina uma artista brega da periferia e em um de seus vídeos diz que abraçar a extravagância é retornar a fonte divina da magia e do encanto. Uma artista que acredita que o menos nunca é mais e além de apresentar sua "arte esotérica sucateada", mostra como pensa e monta seus looks com raridades do brechó e bazares.
Marcas &
Manifestações
REPRODUÇÃO INSTAGRAM
REPRODUÇÃO INSTAGRAM
Riqueza de detalhes e
cores vibrantes
A incrível arte de Kehinde Wiley é marcada pela riqueza de detalhes, o uso vibrante de cores e a abordagem ousada, muitas vezes com fundos elaborados e ornamentados que enfatizam o aspecto nobre e majestoso das figuras retratadas. O artista é conhecido por representar importantes questões sociais e políticas.
6 formas para sua marca aproveitar a tendência
Uma tendência de design não é apenas sobre cores, texturas e grafismos. O design representa os sentimentos e ideias de uma época. O maximalismo, antes de tudo, é uma representação de diferentes comportamentos que precisamos ficar atentos como estrategistas de marca, criadores, empreendedores, profissionais de marketing, design e comunicação:
1. Geração Z e o status quo: é hora de quebrar tudo
Se o status quo diz uma coisa, a geração mais jovem tende a gerar uma ruptura. Talvez algo que sempre foi comum para você, já não é relevante para a geração Z ou é exatamente isso que eles irão tentar fazer diferente. Marcas que atendem esse público precisam sempre analisar
2. São tempos de vivacidade
O maximalismo é um produto de um comportamento maior. Em um mundo pós-pandemia e caos social, político e econômico, colocar cor em nossa vida é uma forma de fugir um pouco dos problemas. Pense em experiências em linhas e produtos promocionais que possam proporcionar uma fuga para momentos de alegria, conexão e vivacidade.
3. A era da auto-expressão
Este reverbera é mais sobre uma era de auto-expressão do que exatamente sobre maximalismo. Se você prefere o minimalismo, está tudo ótimo. Existem escolhas para todos e estamos vivendo um momento em que garantir que cada um possa expressar todo potencial de si é essencial. Marcas que conseguem ver além e construir uma imagem que representa uma tribo, estilo de vida ou personalidade íntima podem se destacar.
4. Collabs criativos
Colaborações e cobrands são formas de explorar essa tendência mesmo que sua marca não tenha uma identidade totalmente alinhada com o lado exagerado (no bom sentido) do maximalismo. A collab é apenas 50% de quem sua marca é, os outros 50% podem ser de outra marca que tem valores alinhados com a sua, mas uma identidade diferente, talvez que consiga entregar essa expressão.
5. Experiências maximalistas: uma explosão sensorial
Oferecer experiências maximalistas significa criar momentos de explosão dos sentidos. E isso não depende exatamente da personalidade, mas do propósito de cada experiência. Você pode ter uma marca minimalista de luxo e mesmo assim oferecer um momento em um evento em que as pessoas ativam os cinco sentidos para vivenciar diferentes sentimentos.
6. Ouse ser diferente
Uma explosão de camadas, cores, fontes, imagens é também ousar ser diferente, ir além do senso comum. É coragem para fazer o que acredita ser sua essência e arriscar. Sem coragem não tem marca forte.
Para continuar estudando:
Esse texto é incrível: uma inspiração com várias dicas em como o design pode usar elementos que exploram essa tendência.
Na moda, existem diferentes formas de aplicar o maximalismo.
Para ler mais sobre a geração Z e o maximalismo clica nesse.
Se você quer saber mais do maximalismo na arquitetura de forma prática, esse post foi um dos mais legais em português que encontrei
O luxo começa a dar sinais de abraçar a tendência. A cultura a cíclica e talvez daqui 10 anos o Reverbera seja sobre como o maximalismo agora é elitista. Será?
O maximalismo é a vida pulsando em meio às dificuldades. Usando ou não em seus projetos, que seja uma inspiração para compreender diferentes camadas sociais e culturais do comportamento do consumidor.
Chegamos ao fim. Espero que tenha gostado da primeira edição do Reverbera. Que venham muitos estudos e análises pela frente. Espero você na próxima.
O Reverbera analisa macro e micro tendências que impactam o mundo das marcas. Desde grandes movimentos socioculturais até mudanças específicas em comportamentos e preferências de consumo. Ele pode abordar temas como sustentabilidade, inclusão, digitalização, personalização, novas formas de trabalho, experiência do cliente, entre outros.
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Referências:
A Blast of Joy (Depositphotos)
Minimalismo é uma questão de classe (ECOA)
Afinal, maximalismo é tendência ou está fora de moda? (Fast Company)
Maximalist Interiors are Redefining Stability for Younger Generations in Turbulent Times (Print Mag)
How the MTV logo captured the creative spirit of the 1980s (Creative Blog)
Cor do Ano Pantone (Pantone)
What Does It Mean to Be Maximalist? Interior Designers Explain (Vogue)
Maximalism: How designers are turning up the volume of their work (Web Flow)
MAXIMALISMO META: A TENDÊNCIA MAXIMALISTA QUE A GEN Z ADOTOU (Steal the Look)
Criação, curadoria e roteiro: Paulo Lima
Arte da Capa: Thiago Panegassi
Revisão: Mariana Melissa
Participção Especial: Itamara Ferreira