Movimento slow, arquétipo do inocente e marcas aspiracionais
O Movimento Slow é uma iniciativa que visa uma transformação cultural para desacelerar a vida cotidiana.
Paulo Lima
Nesta semana eu escrevi no instagram do praticando como marcas fortes se conectam diretamente com a cultura.
Consumo aspiracional transcende o status que vem do luxo para também ser sobre identidade e pertencimento. Marcas se tornam um motor social e cultural quando geram um relacionamento profundo com consumidores por meio de suas histórias autênticas, estética única e relação com motivações humanas e arquetípicas. Assim, vai criando capital intangível que vai muito além do produto.
E é sobre essa última frase que resolvi me aprofundar na news da semana: arquétipos nos ajudam a colocar uma lupa em padrões de comportamento e manifestações culturais.
Quando compreendemos códigos sociais e culturais como expressões arquetípicas, conseguimos ir muito além do uso dos arquétipos para construir personalidade e significado. Podemos usar os arquétipos no processo de definição de estratégia de marca de uma forma mais conectada com seu símbolo real na sociedade e não usando como um estereótipo ou clichê (dizendo apenas que minha marca é o inocente, por isso é otimista e só).
Mas o que são os arquétipos?
Arquétipos são padrões universais de comportamento humano que se repetem em diferentes culturas ao longo da história. Eles são representações simbólicas de motivações, desejos e medos que pertencem ao inconsciente coletivo da humanidade. Neste post eu falei mais sobre arquétipos e marcas.
O arquétipo do inocente na cultura
A jornada do inocente começa com uma espécie de utopia: um ambiente seguro, tranquilo e amoroso. A felicidade é palpável e as preocupações são praticamente inexistentes. O sol brilha, as árvores balançam suavemente ao vento e os pássaros cantam alegremente. É um lugar onde tudo parece possível e realizável.
Essa metáfora simbólica pode ser representada em nossa vida quando tentamos confiar mais no mundo e nas pessoas, ou quando vivemos com muito otimismo e transmitimos isso para todos que estão ao nosso redor.
Mas sabemos que poucas pessoas vivem com esta ótica majoritária em suas vidas. Estamos quase que sobrevivendo em tempos de crise econômica, política, social e ambiental. Para piorar, passamos por uma pandemia que deixou cicatrizes profundas em todos nós.
Nesta confusão toda, o arquétipo do iNesta confusão toda, o arquétipo do inocente se torna um símbolo por um pouco de esperança e escapsimo em nossas rotinas. Ao invés de olhar consumidores que vivem este arquétipo como parte principal de suas personalidades, podemos olhar como uma busca por equilíbrio, bem-estar e vida mais saudável. Você não é uma pessoa que vive o inocente em todas as suas ações, mas na rotina quer viver experiências que te ajudem a desacelerar.
Por isso, além de construir marcas, compreender profundamente um arquétipo é também uma chance de mapear tendências e oportunidades de criação de valor na cultura.
E o Movimento Slow entra nesta história como uma expresão importante que conecta o arquétipo, consumo aspiracional e comportamento do consumidor.
Extra: A nostalgia é outra representação desse arquétipo na cultura, falei bastante sobre isso neste artigo no linkedin e nesta análise sobre a geração Z usando câmeras digitais.
Movimento Slow como manifestação do inocente
O Movimento Slow é uma iniciativa que visa uma transformação cultural para desacelerar a vida cotidiana. Começa com o Slow Food que teve início na década de 80 na Itália e defendeu a valorização do prazer gastronômico através da apreciação de receitas e sabores, dando prioridade aos produtores locais e respeitando o ciclo natural das estações.
Nos anos 2000 tivemos início ao movimento slow fashion que incentivava o consumo consciente ao se vestir e na origem real dos produtos. Algumas marcas lançavam pequenas coleções com peças de durabilidade prolongada. Hoje já observamos diversas vertentes diferentes como o Slow Cities, Slow School, Slow Travel, Slow Books, Slow Living, Slow Money, e por aí vai.
Inclusive, o movimento Slow Content está ganhando boas discussões, impulsionado pela exaustão dos criadores, estabelecendo conexão direta com os efeitos na saúde mental digital e na infotoxicação.
"Viver num ritmo slow é procurar viver num ritmo equilibrado que seja bom para o corpo e bom para a mente (saúde), bom para os relacionamentos, para as sociedades e comunidades (desenvolvimento pessoal, social e local), e para o planeta (ambiente, sustentabilidade)." Malone Rodrigues
O Movimento Slow é uma manifestação do arquétipo do inocente na cultura e muitas marcas já fazem parte deste movimento. A Psicotropica se define como “uma janela onde artistas usuários da rede de saúde mental podem ser quem eles quiserem, mostrando seu jeito de ver e entender o mundo”. A Feira Jardim Screto promete fortalecer a economia local, inspirando um futuro coletivo. A jornalista Luísa Ferreira compartilha dicas e reflexões sobre viagens pra dentro e pra fora no @janelasabertas. E a Kiro é uma marca que tenta ressignificar seus momentos de socialização.
Construir marcas com arquétipos vai muito além de escolher uma caixinha. É um momento de conectar ideias, comportamentos, tribos e uma visão de como gerar valor para nosso espírito do tempo.